subscribe: Posts | Comments

Eu, tu e ela, Oriana

Teatro del Pavone cheio mais uma vez, numa das ultimas apresentaçoes do Festival del Giornalismo. No ar, uma sensaçao de descontraçao e um belo piano negro sobre o palco.
Comigo, alguma informaçao prévia de quem foi Oriana Falaci e muita curiosidade de descobrir mais sobre essa personagem fascinante da història da imprensa italiana.

Minutos depois, uma introduçao apaixonada à biografia da jornalista, mais conhecida na Itàlia pelo seu “Rabbia e Orgoglio” (em que falava do Islao e dos muçulmanos europeus) e que tem uma produçao vastìssima entre artigos, entrevistas e reportagens, foi correspondente no Vietname para o L’Europeo e entrevistou figuras tao diversas quanto Dalai Lama, Golda Meir e Ayatollah Khomeini. Oriana foi lembrada na noite passada como uma jornalista completa – cobria com a mesma paixao e qualidade temas tao diversos quanto guerra, cinema, current affairs e politica – e como uma pessoa que nao abdicava do seu direito de pensar, sentir, opinar e escrever, e de faze-lo na forma de uma prosa rica, “de uma pessoa que tinha muito a dizer”.

A apresentaçao foi acompanhada pela leitura de excertos de suas entrevistas e artigos, lidos por duas jovens atrizes italianas, Sonia Grandis e Valeria Palumbo, e para o deleite dos presentes, as leituras foram acompanhadas por uma trilha sonora, a encargo da banda Shutup (nome um bocado curioso dada a natureza do evento). O restante, imaginar os percursos e a vida daquela personagem na Itàlia e nao sò, ficava a encargo da plateia, ajudada por um set de slides com fotos de Oriana e pessoas e lugares que povoaram a sua vida e suas paixoes.

Os excertos, desde relatos de Saigon, no Vietname, à “Oriana por Oriana”, perpassando a sua relaçao com a familia, a infancia, Florença, seus entrevistados, seu gosto pela boemia e sua nao pouco polemica posiçao na defesa pelos direitos da mulher (como o direito ao nao casamento, em meio ao conservadorismo da sociedade italiana dos anos 60) foram narrados apaixonadamente pelas duas atrizes, que transpareciam deixar o texto fluir pelas veias e conseguiam se fazer entender mesmo sem o auxilio da traduçao – ajuda preciosa que supriu a minha ignorancia da bela lìngua de Dante durante esses dias – e tive que fazer um bocado de esforço em vencer o cansaço e “put my italian skills to work”, o que funcionou até certa altura, e depois nao muito mais que isso. Mas enfim, os relatos soaram extremamente intimos, cheios de observaçoes àcidas e questionamentos, ajudados pelo som macio e bem suave daquele jazz que servia de “intermission” entre um relato e outro, ora soando a Sonny Rollins e Dave Brubeck, ora soando a Stan Getz e Ry Cooder, com uma flauta fazendo as vezes do saxofone, numa interpretaçao nao menos apaixonada que a que vi durante as leituras.

Toda aquela paixao na leitura, que transpunha as barreiras da lìngua  – e conseguiu emocionar e me fazer entrar um pouco naquele vasto universo de Oriana Fallaci – me fez lembrar de um conselho de uma das pessoas que marcaram a minha estadia no Velho Continente – a professora Cristina Marinho. “Um texto deve ser sempre lido em voz alta”, ela dizia. E é verdade. O ritmo é diferente, a recepçao é diferente, e mesmo a compreensao é diferente, tornada bem melhor e mais vìvida quando acompanhada de um outro suporte para além daquele que os olhos alcançam.

Para fechar, a presença de um dos editores do L’Europeo que trabalhou com Fallaci – que, se nao me escapou o nome, era mesmo Tommaso Giglio. Se me escapou o nome, ele trabalhou com Oriana ainda assim – e o tom da mensagem deixada foi bem claro: se alguém tem um sonho, deve persegui-lo. E devemos dar ouvidos às pessoas que nos estimulam e nos empurram em direçao à ele. E nada melhor que um exemplo concreto: Giglio disse se lembrar das conversas entre o hoje astronauta italiano Paolo Nespoli e Oriana Fallaci, ainda da época que Nespoli sabia o que queria fazer, mas se sentia um pouco perdido com uma interrogaçao no meio do caminho. E o incentivo que faltava deixou de faltar no dia em que conversou com Oriana sobre seu desejo de ser astronauta, ao que Oriana disse algo como, “và fazer Engenharia, viaje aos Estados Unidos, vai fazer um treinamento e se torne um astronauta!”. Receita que funcionou bastante bem.

Aplausos e mais aplausos, hora de voltar para casa. Mas voltar com uma vontade ainda maior de ter em maos alguma coisa traduzida de Oriana Fallaci, o Rabbia e Orgoglio, talvez. Acho que é assim que a gente vai aprendendo as coisas ao longo do caminho.

Meghie Rodrigues

P.S.: ignorem os erros de acentuaçao, please. O teclado que estou usando sò nao é mais italiano porque é o ùnico que encontrei. Mas espero que a mensagem tenha chegado ainda assim…

  1. Hmhmhm… que bom banho cultural que apanhaste! Depois quero saber mais pormenores. 😉

Leave a Reply

Il tuo indirizzo email non sarà pubblicato. I campi obbligatori sono contrassegnati *